segunda-feira, 16 de junho de 2014

Igreja São João Batista - Belém


Ela tem quase 400 anos, já foi o presídio de um dos mais importantes nomes do Brasil Colônia. É obra de um dos mais celebrados arquitetos que por aqui passaram . Virou Catedral mesmo tendo cara de capela. Foi considerada por um diretor do Louvre, como joia da arquitetura barroca. E você que vive aqui, talvez nem a conheça.


No coração da Cidade Velha, a igreja primitiva foi construída em 1622, sob o pretexto da recusa do vigário em celebrar a festa de São João Batista na única igreja então existente, a de N. Sra. da Graça.

Surgiu apenas 6 anos após a fundação da vila, em taipa e coberta de palha. Em 1661, foi cárcere do jesuíta Antônio Vieira, que cometeu o crime de dedicar-se à causa indígena. Em 1686, uma segunda igreja, surge. Em 1721, depois de ser paroquial por sete anos, vira Catedral de Belém com a criação do Bispado do Pará. Perde o posto quando a catedral da sé é concluída, na metade do século XVIII.
Após revitalização  - Frente da Igreja de São João

A igreja atual surge entre 1771 a 1774, segundo projeto do italiano Antônio Landi. Sagrada em 1777 e com sua nave octogonal coberta por uma cúpula é única em Belém.
Ainda que por fora seja quadrada, seu interior apresenta forma octogonal com elegante cúpula sobre a nave de rara beleza, o que era bastante incomum na arquitetura colonial brasileira. As pinturas do altar principal e das laterais são feitas em técnica que emita volumes e relevos.

Um conjunto tão precioso que um ex-diretor do famoso Museu do Louvre, em Paris, Germain Bazin, considerou a A Capela de São João Batista como "uma joia da arquitetura barroca".

E você que vive nesta cidade, talvez nem saiba onde ela se encontre realmente. Nunca tenha tido a curiosidade de entrar e contemplar a beleza de seus traços, a magia de quase 400 anos de história. Quando for a cidade velha de novo, não perca esta oportunidade.


Altar Mor - Estilo Barraco

Fontes: Alvo Pesquisa / Iphan / Fórum Landi, UFPa
Foto: Smith, Robert. 1937 a 1947. Coleção Robert Smith, Fundação Calouste Gulbenkian (Biblioteca Digital Fórum Landi)

sexta-feira, 13 de junho de 2014

O médico, o doente e o filósofo

O médico, o doente e o filósofo

O Médico, o Doente e o Filósofo, de Jacqueline Lagrée
Este é um livro escrito por uma professora de história da filosofia e membro da comissão de bioética de Rennes, Jacqueline Lagrée. O seu conteúdo versa sobre as particularidades da relação médico-doente, sob a perspetiva lúcida, questionadora e transformativa de um filósofo.

As palavras que introduzem esta obra pertencem ao conhecido texto do século IV, o Juramento daquele que foi médico, filósofo e revolucionador da Medicina, do seu passado até ao nosso presente – Hipócrates. Além deste conhecido filósofo são citados vários outros ao longo da obra, alguns afetados pela doença, como Pascal, que escrutinaram esta entidade sob o ponto de vista próprio do doente-filósofo. Também a ética de Spinoza e a moral de Kant são mencionados nesta obra, firmando as bases da perspetiva social deste conceito fulcral que é a doença.



“A filosofia apresentou-se durante muito tempo como uma medicina da alma”
“A doença é a paragem, o bloqueamento de um sistema no interior do todo, que impede a fluidez da vida. Mas é também a contradição em vias de ser superada. O movimento de passagem da natureza ao espírito.”


Jacqueline Lagrée inicia o seu livro mostrando claramente que há perspetivas independentes e bastante distantes umas das outras acerca da saúde e da doença. Frequentemente, o médico, o doente e os seus próximos, encaram a doença como os viajantes que, chegados ao Egipto, observam a grande pirâmide: “Cada um não capta dela senão a face pela qual ele a aborda e, em virtude de não a ter sabido contornar, crê que o seu ângulo de visão é o único e o bem”. Sob a luz de um pensamento filosófico poderemos conhecer e contornar as diferentes faces da pirâmide, melhorar a relação entre os diferentes observadores e mesmo promover um crescimento pessoal de cada um.

 A concretização desta filosofia prática observa-se no título do primeiro capítulo: “Quem é aquele que se trata?”. Um pensamento de procura da verdade inicia-se com questões fundamentais, frequentemente inquietantes, que fazem parar o movimento desenfreado da vida automática, como esta: Quem é aquele que se trata? Cada indivíduo, a dada altura, tem uma razão própria para procurar tratamento, não sendo necessariamente doente. Respondendo a esta complexa questão, a autora do livro define claramente o conceito de indivíduo: aquele “que não pode ser dividido sem ser destruído”, e o de pessoa: “o rosto, e a seguir a máscara de teatro, e, através dela, a personagem desempenhada pelos atos”. Esclarece-se, assim, que ninguém deve ser reduzido às capacidades manifestadas numa dada situação pontual. Uma pessoa é uma personagem criada na interação de máscaras. É muito mais que essa máscara, é muito mais que uma cabeça, um fígado, um rim,…, que uma bata, um bisturi ou uma receita. Um individuo é uma complexidade única, da qual só é percetível aquilo que nos é dado conhecer, e aquilo que estamos dispostos a procurar. Portanto, aquele que se trata não é apenas um doente, é uma pessoa. Esta pessoa pode, ou não, achar-se doente; pode, ou não, estar fisicamente doente. E tudo isto modifica a forma como se encara a si mesma, à doença e ao médico que procurou para se tratar. A mesma face da pirâmide pode ser observada de diferentes maneiras, por diferentes olhares.


«A doença é qualquer coisa que me acontece a mim e à qual eu reajo “provocando uma doença”»



Muito embora na generalidade dos casos seja o corpo biológico o alvo do tratamento “o corpo é, para a pessoa, o seu bem, mas um bem indisponível como o são a cidadania ou a sua liberdade”. Este corpo não é, portanto, propriedade de ninguém, nem do próprio que nele debruça a sua consciência. Não é, também, neste corpo material que radica toda a verdade e toda a ação de investigação e de tratamento. Um indivíduo, em qualquer altura, deve ser encarado no seu todo, uma vez que “a pessoa humana não se compreende senão na articulação de três planos distintos mas ligados; o plano biológico do indivíduo, (…) o plano relacional do seu ser com outrem, (…) o plano simbólico da inscrição numa cultura, numa língua, numa tradição…”. O corpo biológico, emocional, social e cultural de uma pessoa não são posse de ninguém e devem estar acima de qualquer interesse ou julgamento. Respeitando esta ideia afirma-se, de facto, a dignidade humana. A este propósito a autora cita o tratado político de Spinoza «não censurar, não lastimar, não dizer mal, mas compreender», e a segunda formulação do imperativo fundador da moral de Kant: «afirmar a dignidade da pessoa é lembrar que “eu devo tratar sempre a humanidade, na minha pessoa e na do outro como um fim em si e nunca simplesmente como um meio”», mostrando que a compreensão do indivíduo é o fim para o qual se articulam, médico e doente, por meio da medicina. Esta compreensão da pessoa mostra a existência de respeito, não só por ela, mas pelo que é o ser humano, mostra que vale a pena e eleva-a acima de todas as coisas que povoam o planeta e as mentes. A medicina é esta arte/ciência que radica na compreensão do individuo na sua total complexidade, dignificando o conceito humano. Retomando a metáfora da pirâmide, este conceito humano é a aresta que une a face da pirâmide observada por aquele que se acha doente, e a face observada pelo médico que o quer tratar, duas perspetivas diferentes encontram-se numa única linha, composta de infinitos pontos, mas bem delimitada.
O individuo que se trata é alguém que se quer conhecer a si próprio, e o indivíduo que o trata é alguém que deseja conhecer o próximo e ajudá-lo a conhecer-se a si mesmo. O encontro destes investigadores da verdade dá-se frequentemente através de uma consulta. O que é uma consulta? Segundo a autora, uma consulta é “o momento e o ato de ir consultar, isto é, tomar parecer, conselho, junto de um especialista”. Um especialista não é, portanto, algum ente solucionador de males alheios, é alguém que, por se debruçar sobre determinado assunto, pode aconselhar o seu igual, de forma a torná-lo mais lúcido e conhecedor da verdade. Alguém que procura tratar-se procura, antes de mais, esclarecer-se sobre o seu mal, estar a par dele, antes de se decidir por tratá-lo. A renúncia ao conforto da ignorância, a procura da verdade, é o que caracteriza o ato de consulta. O doente torna-se assim um filósofo, junto com o seu médico, pois ambos procuram sair das sombras, em direção à luz da verdade. A aresta da pirâmide, que une o olhar destes dois viajantes, pode começar a ser escalada, desde a sua base, junto à terra, até ao seu vértice, onde a fusão das perspetivas é perfeita. Os dois planos isolados, que se encontravam ocasionalmente numa linha, composta de infinitos pontos, transcendem-se e passam a existir e a coexistir num único e absoluto ponto.

«Quando um paciente ultrapassa o limiar do meu gabinete, é uma pessoa que entra; quando sai, é um mistério» Marie Balmary (psicanalista)


A história da Humanidade está repleta de aventurosos que procuram a solução para os mistérios da Natureza. E, tal como diz a autora, “um mistério permanece para sempre encoberto, um segredo pode-se descobrir, divulgar ou partilhar”. Médico e Doente partilham o mesmo segredo, algo privado e confidencial, a que mesmo os mais próximos não têm acesso. Ambos se reclinam sobre este segredo da natureza, procurando deslindá-lo. Nesta procura, instaura-se uma confiança inédita nas relações humanas. Algo de sagrado os une e, através deste laço, ambos partilham a mesma finalidade última, legitimando-se atos diagnósticos invasivos e tratamentos de enorme violência para o corpo.  O médico é privilegiado, como em nenhuma outra profissão, por poder realmente escutar outras pessoas. A ele se abrem as portas secretas do interior de cada um, para que possa entrar e ajudar no caminho de procura.  Aquilo que para nós é mais importante e basilar, guardamo-lo, escondemo-lo dos restantes que poderão reduzi-lo à insignificância. É através deste segredo que se respeita, onde se nega a banalidade do que se revela, que surge o “berço” da relação médico-doente. Na nossa construção metafórica piramidal, é a base da aresta que une a face do médico com a face do doente.

O doente que se expõe e partilha o seu segredo vive um momento de crise. A autora recorre novamente a Hipócrates para clarificar este conceito: “a crise é o momento singular em que o mal atinge o paroxismo e em que o tratamento adequado produzirá o efeito máximo. É o momento do discernimento, do juízo, e da decisão”. É neste preciso ponto da vida que incide a luz, que o adormecimento quotidiano cessa e há a possibilidade de evolução. Pois que, a saúde é “a vida no silêncio dos órgãos, que a doença vem perturbar”. A saúde é um sonho de liberdade e eternidade que atordoa e desvaloriza a própria vida. Perdemos noção da nossa característica efémera e frágil, perdemos as nossas prioridades, o nosso sentido na vida, a força que nos faz percorrer o nosso caminho. Adormecemos em plena caminhada, perdendo o rumo e a lucidez.“ A vida, em bom estado de saúde, é auto-justificativa: marcha normalmente por si. O estado de doença abala esta convivência espontânea com o meu corpo e o meu mundo”. Contrariamente, a crise que se instaura na doença é uma rotura, uma chamada de atenção sobre nós mesmos. Na doença o corpo torna-se uma prisão - não somos livres -, e o presente torna-se mais intenso pelo distanciamento nostálgico do passado saudável e do futuro interrompido – não somos eternos. A aparente prisão da doença, por nos mostrar a transitoriedade e mutabilidade do mundo físico, por suscitar uma rotura entre a consciência e este corpo que se rejeita, traz-nos mais para o nosso centro, para o correto ponto de vista do nosso Eu interior, que se mantém sempre o mesmo e se evidencia nesta dissociação da alma com a matéria. Frequentemente o corpo é apenas o intermediário entre a nossa vontade e o mundo onde agimos. Ele transforma aquilo que é próprio da mente e da alma em ações presentes no mundo concreto. Este corpo, quando saudável, torna fluida esta transformação, e raramente é alvo de preocupação. Temos a noção de ter tudo ao alcance de uma vontade. Quando a doença desarmoniza  este corpo, este deixa de ser transparente, para ser mais compacto e, as vontades da alma, em vez de fluírem por ele acionando-o sobre o mundo externo, esbarram nesta parede compacta. Deixamos de nos reconhecer no nosso corpo, quando doentes, perdemos a capacidade de exercer a nossa vontade, e rejeitamos esse corpo que não cumpre a sua função. Fechados num corpo que rejeitamos, o que nos resta fazer senão observar a própria alma, nunca antes observada por fugir fluida e sem atrito para o mundo concreto?


“E, no entanto, no seio mesmo da doença opera-se uma reconstrução, uma reorientação destas funções e destes processos que constituem a vida.”
“A doença é este momento crítico que pode ser estéril se todas as nossas referências se abaterem ou fecundo se nos convida a repensar a nossa vida para a viver mais intensamente ou torná-la propriamente mais nossa.”

Nesta linha de pensamentos, a autora cita Blaise Pascal, matemático francês, afetado por uma doença crónica que lhe causava grande sofrimento e que o levou a questionar as bases da vida humana: «Nunca vivemos, mas esperamos viver. E, dispondo-nos sempre a ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos»; «Os homens não tendo podido curar a morte, a miséria, a ignorância, consideraram sensato, para se sentirem felizes, nunca pensar nisso.».

Vivemos cada minuto da nossa vida esquecendo-nos que iremos morrer. Escondemos esse facto de nós mesmos, para que, sem essa pressão de contra-relógio, possamos calmamente adiar as decisões e as ações que nos custam. A ilusão de eternidade é a cortina que nos esconde da nossa vida real. E a sentença da doença é o momento ideal para se ganhar coragem e perscrutar para além da cortina. Já não temos uma eternidade e uma infinidade de destinos a perder. Quantas vezes, no silêncio do nosso lar, inundados por infinitas possibilidades, múltiplas coisas que gostaríamos de fazer, nos deitamos a dormir. Se nos dissessem ser a nossa última noite, as dúvidas desvanecer-se-iam, pois, ínfimas são as coisas que no nosso íntimo nos fazem felizes. A doença, ao limitar-nos, é uma bênção, porque nos reorienta e imediatamente nos traz mais consciência. A nossa atenção foca-se apenas no que se passa no nosso interior, esquecendo o tumulto lá de fora. Como um caracol, na iminência de um perigo, recolhemo-nos na nossa concha interior e encontramo-nos connosco mesmos. Conhecedores de nós mesmos, podemos, pois, tornar-nos possuidores da nossa vida.

“Sabedorias antigas tomavam a peito desenvolver uma “arte de morrer” que fosse ao mesmo tempo uma purificação do medo de morrer e uma preparação para uma passagem para o além. A nossa época, ao invés, oculta tanto a dor como a morte. Parece que há no futuro qualquer coisa de insuportável e de indecente no facto de se padecer de um mal, e esconderem-se os moribundos em espaços médicos”
«Se o homem fosse uno, jamais sofreria; porque onde estaria, para este ser simples, a causa do sofrimento?» (Hipócrates)

Jacqueline Lagrée apresenta também a resposta da filosofia estoica para o sofrimento: «dor, jamais aceitarei dizer que sejas um mal!». Para os estoicos a dor física não deve ser alvo de interesse, mas apenas os males morais e as angústias da alma. Devemos dominar as nossas representações “pela distinção do que depende de nós do que não depende”. «O que perturba os homens, não são as coisas, mas os juízos relativos às coisas; assim, a morte não tem nada de assustador porque Sócrates, ele também, a teria, nesse caso, considerado como tal; mas que se julgue inquietante, isso é que inquieta. Quando, portanto, somos contrariados, perturbados, afligidos, não incriminemos nunca os outros, mas sim a nós próprios, isto é, os nossos próprios juízos. É o que sucede quando um ignorante acusa os outros dos seus próprios fracassos; aquele que começou a instruir-se acusa-se a si mesmo; aquele que é instruído não acusa ao outro nem a si.» (Manual de Epicteto).

Podemos aprender, sob a luz da filosofia estoica, a encarar o sofrimento, geralmente inerente à doença. Este tem origem nas circunstâncias externas à nossa concha interna, porque o nosso corpo e o que ele apreende do mundo externo, não somos nós, não dependem de nós, da nossa vontade e, por isso, não lhes deve ser dada importância. Devemos atender sim, à forma como apreciamos e julgamos o que nos é externo, porque isso sim, depende de nós. O sofrimento advém de sermos demasiado vulneráveis ao mundo externo em constante mudança, que nos impõe regras de como devemos ser, conforme os costumes da época. Se não tivermos um centro, em nós, como referência constante, balançamos como uma folha caída da árvore, ao sabor do vento. Somos arrastados pelos sentidos, pelas nossas representações, toldados pela dor física, arrastados pelo enfraquecimento, enfurecidos pelas emoções, cegos pelos desejos. Em nós mesmos, no nosso profundo ser, devemos procurar as respostas, e, aí, não há sofrimento, porque aí dependemos apenas de nós mesmos. Podemos ser livres, mudando a perspetiva, o enfoque, para dentro. A dor não é um mal nosso, é algo que existe fora de nós, e atendendo a ela, sofremos. Mesmo no extremo das nossas inquietações, na morte, a filosofia estoica encara-a como um chamado de deus, algo digno dos sábios: «Pode convir a pessoas felizes abandonar a vida e inversamente a infelizes manterem-se nela» - (Plutarco). Sendo a vida um caminho de aprendizagem, de procura, e tendo o sábio aprendido a lição encontrando-se, poderá, pois, morrer, tendo-se cumprindo a sua tarefa em vida.

“O estoicismo não é tanto uma aproximação da morte, mas uma meditação da vida”.

Um outro doente filósofo foi Montaigne, que descreveu a sua aprendizagem de não recear a dor e de não recear a morte: «É incerto o lugar onde a morte nos espera, esperemo-la então em todo o lado. A premeditação da morte é a premeditação da liberdade. Quem aprender a morrer, desaprendeu de servir. O saber morrer liberta-nos de toda a sujeição e constrangimento». Lembrando-nos de que podemos morrer, concentramo-nos no nosso essencial e descobrimos aí, a maior das liberdades, a liberdade da nossa alma. Aprender a morrer é assim, aprender a viver a vida interior.

«A morte não é considerada como um aniquilamento mas como uma transfiguração, uma “forma de parto de si” neste trabalho interior de fim de vida que é como uma tentativa de se entregar ao mundo antes de desaparecer» (Michel de M’uzan)

“A morte transforma a vida do homem em destino” (Malraux)

A doença, sentença de morte, pode ser, para o individuo doente, a oportunidade da prática da filosofia ativa que dará sentido à sua vida. A doença acorda o individuo do seu entorpecimento e, a medicina, tratando este individuo, permite que este tenha tempo e condições para se descobrir a si mesmo. “Cabe à filosofia, sem dúvida, lembrar-nos que somente o presente é o nosso tempo mas, em contexto de doença, cabe à medicina ajudar-nos a manter o futuro aberto, não somente mantendo uma vida desfalecida mas deixando sempre um pequeno lugar à esperança, e ao projeto.” A saúde será sem dúvida mais bela e proveitosa depois da doença.

O médico é, assim, um ajudante da transmutação alheia mas, como testemunha deste fenómeno, ele próprio encontra pistas para se descobrir a si. O agir sobre a doença é, para o médico e para o doente um ato de transformação recíproca. Porque “agir designa uma atividade em que o sujeito se produz a ele próprio na sua atividade” diferentemente do fazer ou produzir alguma coisa. Em cada doente que deposita em si a sua confiança e o seu segredo, encontra mais uma pista que mostra o caminho que tem de seguir para encontrar a verdade.

«A ciência médica é a única que não produz absolutamente nada finalmente, mas deve expressamente articular-se com esta prodigiosa capacidade da vida, a regenerar-se a ela própria e a reaprender-se a si mesma» (H. G. Gadamer)

A autora desta obra termina com a enumeração de virtudes humanas específicas que, segundo a mesma, nascem da relação triangular entre o doente, o seu médico e os que lhe são próximos:

Virtudes da inteligência:
·  Lucidez - “a coragem de olhar a verdade de frente sem querer iludir-se”.
·  Humildade - “consciência lúcida de que somos filhos da terra (húmus) antes de sermos filhos do céu”. “Compreensão da nossa finitude e aceitação da existência de limites”.
·  Fidelidade - “saber descobrir em si a linha firme e simultaneamente flexível, que permanece atrás das variações melódicas da vida”.
Virtudes da força:
·  Coragem- “capacidade de superar o medo, que separa a realidade do que se projeta sobre ela”.
·  Constância – “capacidade de permanecer fiel a si próprio, de prosseguir um projeto de vida, de defender os valores que temos por essenciais”. “Os seus frutos são a paz da alma ou ataraxia, a verdadeira coragem e a ligação ao momento presente”.
Virtudes da presença:
·  Paciência – “arte de superar o tempo, de o deixar correr afrouxando a sua captação, renunciando ao seu domínio total”. “Apenas é virtude se se acompanhar de duas atitudes: a vigilância do instante; e a preocupação consigo”.
·  Simplicidade– “amor da clareza, da inteligência que reconduz o complexo ao simples”. “Virtude da unidade de si mesmo, das suas forças e fraquezas para poder gostar de si simplesmente, sem narcisismo ou idolatria”.
Virtudes da relação:
·  Doçura– “Designa o dom da paz, a solidariedade ativa e generosa, independentemente das condições e das circunstâncias”. «Disposição de acolher outrem como alguém a quem se quer bem» - (J. de Romilly)
·  Escuta– “Dispor a orelha para ouvir. Pressupõe, para que seja eficaz, o silêncio”.
·  Solicitude– “Capacidade de ter preocupação e cuidado com o outro. Ela comporta uma parte discreta de troca e de reciprocidade”.
O que faz o laço e o alicerce de todas estas virtudes é a amizade para com o outro e para consigo mesmo. “O amigo é aquele com quem partilho pensamentos, sentimentos, gostos valores, práticas; aquele que me apoia quando falho e de quem recebo algo sem obrigação de retribuir.”

A doença não é uma maldição. É um ponto de viragem no caminho de uma pessoa que suscita um pedido de sentido em relação à vida. O médico que compreende esta pessoa, mais do que tentar explicar ou extirpar um mal, elucida um sentido, agindo sobre si próprio por colocar questões ao seu próprio caminho. Unidos nesta busca, ambos agem reciprocamente numa relação ativa e pacífica. A doença acordou-os da harmonia entorpecedora e estas duas consciências debruçam-se agora sobre cada instante da vida, pacientemente. Deste seu ponto de vista central e simples, sobre o qual todo o mundo roda e se complexifica, o objetivo é claro, o projeto de vida define-se concretamente. O que é essencial distingue-se claramente do que é supérfluo. As fundações do castelo que se quer construir, que é a própria vida, definem-se bem agora. Mas é preciso construir a obra, por em prática o projeto fielmente. 

É pois, no seio desta relação de confiança, que se estabelece o apoio e o testemunho necessários à superação do medo de falhar, do medo que sempre existe espreitando cada ação de transcendência. Fieis ao seu projeto, com os pés bem assentes na terra, ambos recebem a bênção da verdade, da lucidez que afasta as obscuridades e sombras. Ambos encontram pequenos clarões de felicidade.

A doença, se encarada como uma a pedra no caminho, utilizável para construir o nosso castelo, tal como diz Fernando Pessoa, é pois, a melhor ferramenta que podemos encontrar para nos conhecermos e para nos construirmos.

O Médico, o Doente e o Filósofo, constituem uma trindade que encara a doença sob diferentes perspetivas e que, unindo-se, transcendem-se.
Joana Moreira

terça-feira, 10 de junho de 2014

Oque carrego no coração?


Oque Carregamos no coração?

Vamos entender melhor, através do belo conto zen abaixo.


Oásis
Conta uma popular lenda do Oriente que um jovem chegou à beira de um oásis junto a um povoado e, aproximando-se de um velho, perguntou-lhe:

– Que tipo de pessoa vive neste lugar?
– Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem? – perguntou por sua vez o ancião.
– Oh, um grupo de egoístas e malvados – replicou o rapaz – estou satisfeito de haver saído de lá.
– A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui – replicou o velho.




No mesmo dia, um outro jovem se acercou do oásis para beber água e vendo o ancião perguntou-lhe:
– Que tipo de pessoa vive por aqui?
O velho respondeu com a mesma pergunta:
– Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?
O rapaz respondeu:
– Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste por ter de deixá-las.
Se temos algo bom, podemos ver nos demais
– O mesmo encontrará por aqui – respondeu o ancião.


Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou ao velho:
– Como é possível dar respostas tão diferentes à mesma pergunta?

Ao que o velho respondeu:
Carregar Mágoas

– Cada um carrega no seu coração o ambiente em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou, não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também os encontrará aqui, porque, na verdade, a nossa atitude mental é a única coisa na nossa vida sobre a qual podemos manter controle absoluto.

Aforismos Sobre o Carma

Aforismos Sobre o Carma



Como Funciona, na Prática,
a Lei do Plantio e da Colheita


William Q. Judge  


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Nota dos Editores:

Nas primeiras linhas da Carta 88 de “Cartas dos
Mahatmas”, um sábio dos Himalaias define a teosofia
como o estudo das causas pelas suas conseqüências, e
das conseqüências, pelas suas causas. Esta definição da
teosofia como o estudo da lei do carma torna inevitável,
para a filosofia esotérica, a tarefa de conhecer o modo
concreto através do qual as ações e os seus resultados
interagem na prática, nas diferentes dimensões da vida.
Este é, precisamente, o tema do conjunto de trinta e um
aforismos reunidos por William Q. Judge. O texto a
seguir tem clareza e simplicidade na forma externa, mas
sua profundidade vai além da palavra escrita. Quando
são examinados com a devida atenção, os aforismos
falam num plano situado acima do plano verbal. 

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Assim como outros aforismos ainda não usados, os aforismos a seguir me foram dados por instrutores - entre eles H. P. Blavatsky. Alguns deles foram escritos, outros foram transmitidos de outras formas. Foi-me declarado que eles vêm de manuscritos atualmente inacessíveis ao público. Cada um deles foi submetido ao meu julgamento. Eles foram aprovados pela minha razão sem levar em conta qualquer autoridade e depois de uma séria avaliação. Espero que eles recebam do mesmo modo a aprovação dos companheiros de trabalho para quem os publico agora. (W.Q.J.)  


AFORISMOS

(1) Não há Carma a menos que haja um ser para criá-lo ou para sentir os seus efeitos.  

(2) O Carma é o ajustamento dos efeitos que fluem das causas, e, durante este ajustamento, o ser sobre o qual e através do qual ele ocorre experimenta dor, ou prazer.  

(3) O Carma é uma tendência do universo no sentido de restaurar o equilíbrio; e opera incessantemente, sem desvios e sem erros. 

(4) A aparente interrupção na restauração do equilíbrio se deve ao ajustamento necessário da perturbação em algum outro ponto, lugar, ou foco, que é visível apenas ao Iogue, ao Sábio, ou ao perfeito Observador. Portanto, não há interrupção, mas apenas um ocultamento do campo de visão.  

(5) O Carma opera em todas as coisas e seres,  desde  o  menor átomo concebível até Brahma. [1] 

(6) O Carma não está sujeito ao tempo, e portanto aquele que conhece a divisão última do tempo deste Universo conhece o Carma.  

(7) Para todos os outros homens, o Carma, em sua natureza essencial, é desconhecido e incognoscível.
  
(8) Mas a sua ação pode ser conhecida pelo cálculo da relação entre causa e efeito. Este cálculo é possível porque o efeito está incluído na causa, e não é posterior a ela.  

(9) O Carma desta Terra é  a combinação dos atos e pensamentos de todos os seres de todos os graus que se envolveram no Manvântara [2] ou corrente evolucionária anterior, do qual procede o nosso Manvântara.  

(10) Devido ao fato de que tais seres incluem Senhores de Poder e Homens Sagrados, assim como seres fracos e maldosos, o período da duração da Terra é maior que a duração de qualquer entidade ou raça que viva sobre ela.  

(11) O Carma desta Terra e das suas raças começou em um passado tão longínquo que as mentes humanas não podem alcançá-lo. Por isso é inútil investigar o seu início.   

(12) Deve-se permitir que as causas cármicas já colocadas em movimento prossigam até esgotar-se, mas isso não autoriza ninguém a recusar ajuda a seu semelhante ou a qualquer ser sensível.  

(13) Os efeitos podem ser compensados ou mitigados pelos pensamentos ou ações da própria pessoa ou de outrem. Os efeitos resultantes representam a combinação e interação de todo o conjunto de causas envolvidas na sua produção.  

(14) Na vida dos mundos, das raças, das nações e dos indivíduos, o Carma não pode agir a menos que haja um instrumento adequado para a sua ação.  

(15) E enquanto o instrumento apropriado não for encontrado, o Carma que depende dele permanecerá não-manifestado.  

(16) Enquanto um homem está  vivendo o Carma no instrumento que lhe foi dado, o seu outro Carma, ainda não manifestado, não é esgotado por outros seres, nem por outros meios, mas permanece reservado para operar no futuro. Durante este lapso de tempo, não há deterioração na sua força nem mudança na sua natureza.  

(17) A adequação de um instrumento para a operação do Carma consiste na conexão e na relação exatas do Carma com o corpo, com a mente, com a natureza intelectual e psíquica adquirida pelo Eu Superior em qualquer encarnação.  

(18) Todo instrumento usado por qualquer Eu Superior em qualquer vida é adequado para o Carma que opera através dele.  

(19) É possível acontecer mudanças no instrumento ao longo de uma vida, de modo a torná-lo adequado para um novo tipo de Carma, e isso pode ocorrer de duas maneiras: (a) através da intensidade do pensamento e do poder de um voto, ou (b) através de alterações naturais devido à completa exaustão de causas velhas. 

(20) O corpo, a mente e a alma têm cada um a sua capacidade de ação independente. Qualquer um deles pode esgotar, independentemente dos outros, algumas causas cármicas mais remotas ou mais próximas do momento da sua produção do que  as causas que operam através de outros canais.  

(21) O Carma é ao mesmo tempo piedoso e justo. A piedade e a justiça são apenas pólos opostos de um todo único; e a Piedade sem Justiça não é possível nas operações do Carma. Com freqüência aquilo que o homem chama de Piedade e Justiça é defeituoso, errôneo e impuro.  

(22) Há três tipos de Carma:  (a) O que opera nesta vida atual através dos instrumentos adequados; (b) Aquele que está sendo produzido ou acumulado, para ser esgotado no futuro; (c) O Carma guardado desde vidas anteriores e que ainda não está operando, porque permanece inibido pela inadequação do instrumento atualmente usado pelo Eu Superior, ou porque permanece inibido pela força do Carma atualmente em operação. 

(23) Três campos de operação são usados em cada ser pelo Carma: (a) o corpo e as suas circunstâncias; (b) a mente e o intelecto; (c) os planos psíquico e astral.    

(24) O Carma acumulado e o Carma presente podem, cada um deles ou os dois ao mesmo tempo, operar em todos os três campos de operação cármica ao mesmo tempo; ou pode ser que um tipo diferente de Carma opere ao mesmo tempo em cada um dos três campos. 

(25) O nascimento em qualquer tipo de corpo, e a obtenção dos frutos de qualquer tipo de Carma, se devem à linha da tendência preponderante do Carma.  

(26) A força da tendência cármica influencia a encarnação de um Eu Superior, e qualquer família de Eus Superiores, durante três vidas, pelo menos, quando não são adotadas medidas de repressão, eliminação ou compensação.  

(27) As medidas tomadas por um Eu Superior no sentido de reprimir tendências, de eliminar defeitos e de compensá-los - colocando em ação causas diferentes - irão alterar o poder da tendência cármica e encurtar a sua influência segundo a força ou fraqueza dos esforços feitos na concretização das medidas adotadas.  

(28) Ninguém, exceto um sábio ou verdadeiro vidente, pode avaliar o Carma de outro ser humano. Portanto, ao mesmo tempo que cada um recebe o que merece, as aparências podem enganar. Nascer pobre ou enfrentar profundos sofrimentos pode não ser punição por mau Carma, porque há continuamente Eus Superiores encarnando em condições desfavoráveis, nas quais eles experimentam dificuldades e provações para fortalecer a disciplina do Eu Superior, e disso resultam força, resistência e simpatia.  

(29) As influências do carma de uma raça influenciam cada unidade da raça através da Lei da Distribuição. O Carma nacional opera nos membros da nação através da mesma lei, mais concentradamente. O Carma da família governa apenas em uma nação em que as famílias foram mantidas puras e nítidas; porque em uma nação em que há mistura das famílias - como ocorre nos períodos de Kali Yuga - o Carma da família é geralmente distribuído no âmbito nacional. Mas mesmo em tais períodos algumas famílias permanecem coerentes por longos períodos, e neste caso os membros sentem a força do Carma familiar.  O termo “família” pode incluir várias famílias menores.  

(30) O Carma opera para produzir cataclismos na natureza por concatenação através dos planos mental e astral do ser. Um cataclismo pode ter uma causa física imediata tal como um fogo interno ou uma perturbação atmosférica, mas estes talvez tenham sido produzidos por uma perturbação criada pelo poder dinâmico do pensamento humano.  

(31) Os Eus Superiores que não têm qualquer ligação cármica com uma porção do globo onde um cataclismo irá ocorrer são mantidos à parte da operação do cataclismo de duas maneiras: (a) pela repulsão que age em sua própria natureza; (b) através de chamados e advertências que lhes são feitos por aqueles que vigiam o progresso do mundo.  
 
Lei do Karma

NOTAS: 

[1]  Brahma -  O princípio supremo, neutro,  impessoal e incognoscível do universo, de cuja essência tudo emana. No seu aspecto inferior, existe Brahmâ, o “criador” do universo. (“Theosophical Glossary”, H. P. Blavatsky, Theosophy Co., Los Angeles).  (N. do T.)  

[2] Manvântara - Período de manifestação de um Universo.  (N. do T.)  


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O texto acima foi traduzido de “Theosophical Articles”, William Q. Judge, Theosophy Company, 1980,  Los Angeles, edição em dois volumes, ver volume I, pp. 120-124. Título original: “Aphorisms on Karma”.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Signos do Zodíaco - Peixes.


Signos do Zodíaco - Peixes

Há muito tempo haviam ciências ocultas ao homem comum, eram chamadas de ciências herméticas, dentre elas podemos citar a Alquimia, Yoga e a Astrologia.
Assim como as demais, a astrologia hoje acabou sendo banalizada e caindo no descrédito perante boa parte de nós ou na aceitação basicamente supersticiosa de muitos. Nosso objetivo aqui é rever em poucas linhas e sem muita profundidade porque como dizemos eram ciências para altos iniciados, a importância de uma parte da astrologia que chamamos de zodíaco, e em especial o signo de Peixes.

          O Período de aquário vai de 20 de fevereiro a 20 de março.

Mitologia
        Na Babilônia já encontramos relações com o signo, ele era chamado de Nunu (Peixe), na mitologia grega e suméria, vênus e eros estavam fugindo de tifão e se jogaram em um rio e mudaram suas formas para peixes, por esse motivo os sírios da região não comem peixe com medo de ferir as divindades.

         A mitologia cristã é a mais rica na atualidade que pode nos dar elementos referentes a peixes.
Características

Constelação.


          Um dos signos relacionados a água. Como tal possuem a capacidade pureza em sua natureza. A água também tem um símbolo forte relacionado aos nossos estados astrais, assim os piscianos possuem uma habilidade de captar e saber se adequar aos estados astrais de seus semelhantes e em muitas casos até mesmo guiar esses próprios estados, elevando-os ou rebaixando-os.



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