Lúcia Helena Galvão
Tempos antigos... pouco nítidos,
remotos,
ainda que bem mais intensos que o
agora,
pois que jamais deixou de ser vivo e
real
o meu fascínio pelas noites de Natal.
Luzes e cores e a vontade de voltar
para um misterioso lar
que, insistente, em algum
lugar, me atrai e espera...
Chama latente em minha vida, herdada
desta minha pátria já distante e bem
guardada
em algum canto antigo do meu coração,
país longínquo, desprovido de paixão,
e adornado só com simples emoções,
dourado e matizado em sonhos e
certezas
como a de achar, em algum lugar, um
Ancião,
puro e tão sábio, radiante e
luminoso,
que, em meio ao frio,
é calidez de uma
esquecida alma ardente,
Presença Pura, o mais precioso dos
presentes.
Há de existir este mistério, onde
estará?
Esse encontro pelo qual eu tanto
espero,
de uma noite clara e plena de
Natal...
Brinquedos lindos, que funcionam qual
portal
para um mundo extraordinário de
aventuras,
mesas com doces, pirulitos e
lembranças
de um sonho que a todos embala e a
tudo cura.
Ah, as eternas crianças...
sempre perdidas em si mesmas, sempre
tristes,
já esquecidas de que Papai Noel
existe,
por um momento, porém, redimidas
pela magia desse sonho imortal...
Sei que um dia surgirá, sinto esse
dia,
em que seremos todos puros como
antes;
resgataremos este tempo tão distante
e tão presente...
E todos nos apoiaremos, simplesmente,
sobre as janelas, alcançando seus
batentes,
a buscar renas galopando em céu brilhante...
Com rostos sujos de açúcar e
confeitos,
com almas simples, mas com corações
perfeitos
e debruçados nas janelas que nos dão
acesso aos céus.
Puros, singelos, olhando e contando
estrelas,
tentando ver se encontramos a Mais
Bela,
que é a janela em que se debruça
Deus...