Belém completa seus 400 anos, e nada melhor do que
reforçamos nosso amor pela cidade. Esse amor e carinho pela capital da Amazônia,
podemos notar em diversos setores da cidade, em grandes personagens da nossa
história e também nos contos populares. E para reforçar essa ideia vamos
refletir sobre a Moça do Táxi.
Josephina Conte - A moça do Táxi |
Essa é uma das estórias de assombração mais divulgadas em
Belém, e não é por menos, afinal, aqui a moça do Táxi, tem nome e sobrenome.
Mas antes disso, vamos resumir um pouco dessa lenda urbana paraense.
“... Um dia qualquer do ano. Porém sempre na mesma data. A
moça faz sinal para o táxi, geralmente de quatro portas, sentando-se atrás. Solicita ao motorista que vá ao bairro da
Cidade Velha. Pede para ir devagar pelo largo da Sé (Praça Frei Caetano
Brandão); volteia o largo do Carmo, faz questão de ir ao porto do Sal,
dirige-se em seguida ao Arsenal da Marinha, solicitando sempre marcha lenta.
Nesse momento o motorista, já desconfiado, interrogar a moça
sobre o destino final da viagem, mas a mesma apenas solicita que fique dando
voltas nos pontos turísticos da cidade, e em especial, Cidade Velha e Bairro de
Nazaré.
No final, ela desce do táxi em frente a uma residência no
bairro de Nazaré (em outras versões ela pega o táxi em Nazaré e desce no
cemitério Santa Izabel), e solicita que seja cobrada a corrida no outro dia.
No dia seguinte, pela manhã, o motorista foi ao endereço dado
pela moça.
- Bom dia! Mora aqui
o Senhor fulano?
- Bom dia! Sim, mora.
O que o senhor deseja?
- Vim cobrar uma
corrida de táxi da filha dele.
- Mas ele não tem
filha, ou melhor, nós não temos, porque sou esposa dele.
- Não é possível, não
tenho porque lhe mentir....
- Ontem uma moça
assim, correu toda a cidade em meu carro e me mandou cobrar aqui, dizendo ser
filha do senhor fulano e que o passeio era o seu presente de aniversário (ou
então refere-se à corrida casa-cemitério ou vice –versa).
Neste momento na sala, o motorista vê o retrato da moça, e a
reconhece.
- Não é possível,
essa moça era nossa filha, mas ela já morreu há tanto tempo...E realmente, o
pai costumava lhe dar de presente uma volta de táxi pela cidade.
O motorista começa a ficar muito nervoso. Já não se
interessava nem em cobrar a corrida. Só quer esclarecer se a moça que pegou o
seu carro estava viva ou não.
O caso é solucionado pela chegada do marido, que afirma a
morte da moça, prontificando-se a leva-lo ao cemitério. E lá, mostra o túmulo,
onde o motorista vê um retrato igual ao que havia na casa…”
Trecho da história, retirado do livro “Visagens e Assombrações de Belém”, do Jornalista Walcyr Monteiro.
Viagens e Assombrações de Belém |
Filha de Nicolau Conte, imigrante Italiano, dono da
Sapataria Boa Fama. Josephina nasceu em 19 de abril de 1915, era uma moça de
classe privilegiada da Grande Belém, e estudava no colégio Santo Antônio. No
dia de seu aniversário, seu pai costumava dar de presente um passeio de táxi pela
cidade, e dessa passavam bons momentos juntos e assim foi por toda a década de
20.
Naquela época os táxis eram chamados de chofer e também eram
um meio de ostentação, pois o valor do carro
de aluguel, não era barato.
A cidade vivia o final do ciclo da borracha, que deixou
Belém, como uma das cidades mais desenvolvidas do país, onde contava com
tecnologias que não existiam em cidades do sul e sudeste, como por exemplo o
Cinema Olympia (o mais antigo do Brasil em funcionamento), inaugurado em 21 de
abril de 1912, o belo Teatro da Paz, inspirado no teatro Scala de Milão, o
mercado do Ver – o – Peso a maior feira livre da América Latina, Palácio
Antônio Lemos, Praça Batista Campos, dentre outros.
Praça Batista campos - Belém Antiga |
Praça Batista Campos - Anos 20 |
Era uma Belém bucólica mas com ares de cidade Europeia, A
“Paris N’América”, como se intitulava. Não era difícil entender, o porquê do
presente do pai, era de um passeio por uma Belém saudosa e majestosa. Amor e
admiração pela cidade que unia pai e filha.
Belém Antiga |
Josephina, sempre fora descrita como uma moça bela, com
rosto angelical, alegre e com um perfume de rosas, que deixava os ambientes
onde estava sempre mais delicados. Aos 16 anos, sofreu forte pneumonia, onde
veio a falecer em 16 de agosto de 1931. Na verdade a morte dela é cercada de
muito mistério, uns relatam tuberculose, e outras fontes da própria família, já
afirmaram que a radiografia dela indicava objetos pontiagudos parecidos com
alfinetes em seus pulmões, fato reforçado por uma colega da escola Santo
Antônio, que afirmava que ela estava triste com o pai, por tê-la proibido de ir
em um baile com os amigos.
Bem, a verdade dos fatos, foi que a garota com aspecto
angelical e com um perfume suave de rosas, havia deixado esse plano para, 2
anos após seu falecimento, entrar para o imaginário paraense.
Começou a circular pela cidade, a notícia que uma bela moça,
que solicitava um táxi, e após entrar no mesmo, sumia, deixando apenas um delicado
perfume de rosas. Conta um dos familiares de Josephina, que durante um almoço
de família, apareceu um taxista, cobrando uma corrida, e informando que era da
filha do casal, o taxista só parou de cobrar a corrida, quando viu o retrato e as
explicações dos pais que a filha já não existia mais. A corrida foi paga, e
dessa forma nasceu a lenda da moça do táxi.
Em 1997, a irmã de Josephina Itália Conte, já com 89 anos,
concedeu uma entrevista para TV Liberal, onde afirmava que jamais houve
cobrança de corridas pela cidade, e que seus pais morreram sem nunca saber da
estória da moça do táxi. Outros familiares, em especial um sobrinho de Itália,
discordam das informações dadas a emissora, e assim temos mais um mistério
nessa interessante lenda.
Bom, o que sabemos é de uma bela história de um amor de pai
e filha, e do ensinamento repassado, da admiração pela cidade. Todas as
aparições de Josephina, mostram que ela, apenas que rever os locais por onde
viverá, ou seja, a sua única intenção é ver Belém. Andar pelos túneis de
mangueiras, ver as luzes e o brilho nas ruas, ver as praças e saber que ainda
são lindas, que são belas, que trazem um passado forte e vitorioso. Mas Belém
está suja, esquecida pelas autoridades, tem algo para ver? Sim, tem. Basta que
tenhamos o mesmo olhar da moça do táxi, um olhar de admiração e carinho por
essa terra, e como estamos vivos, trazer esse sentimento para nossas ações do
dia a dia.
Viva Belém pelos seus 400 anos,
Viva a moça do Táxi!
Autor: Edmilton Furtado
Autor: Edmilton Furtado
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