Aforismos Sobre o
Carma
Como Funciona, na
Prática,
a Lei do Plantio e da
Colheita
William Q. Judge
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Nota dos Editores:
Nas primeiras linhas da Carta 88 de “Cartas dos
Mahatmas”, um sábio dos Himalaias
define a teosofia
como o estudo das causas pelas suas conseqüências,
e
das conseqüências, pelas suas causas. Esta
definição da
teosofia como o estudo da lei do
carma torna inevitável,
para a filosofia esotérica, a tarefa de conhecer o
modo
concreto através do qual as ações e os seus
resultados
interagem na prática, nas diferentes dimensões da
vida.
Este é, precisamente, o tema do conjunto de trinta
e um
aforismos reunidos por William Q. Judge. O texto a
seguir tem clareza e simplicidade na forma externa,
mas
sua profundidade vai além da palavra escrita. Quando
são examinados com a devida atenção, os aforismos
falam num plano situado acima do plano
verbal.
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Assim como outros aforismos ainda não usados, os aforismos a seguir me
foram dados por instrutores - entre eles H. P. Blavatsky. Alguns deles foram
escritos, outros foram transmitidos de outras formas. Foi-me declarado que eles
vêm de manuscritos atualmente inacessíveis ao público. Cada um deles foi
submetido ao meu julgamento. Eles foram aprovados pela minha razão sem levar em
conta qualquer autoridade e depois de uma séria avaliação. Espero que eles
recebam do mesmo modo a aprovação dos companheiros de trabalho para quem os
publico agora. (W.Q.J.)
AFORISMOS
(1) Não há Carma a menos que haja um ser para criá-lo ou para
sentir os seus efeitos.
(2) O Carma é o ajustamento dos efeitos que fluem das causas, e,
durante este ajustamento, o ser sobre o qual e através do qual ele ocorre
experimenta dor, ou prazer.
(3) O Carma é uma tendência do universo no sentido de restaurar o
equilíbrio; e opera incessantemente, sem desvios e sem erros.
(4) A aparente interrupção na restauração do equilíbrio se deve ao
ajustamento necessário da perturbação em algum outro ponto, lugar, ou foco, que
é visível apenas ao Iogue, ao Sábio, ou ao perfeito Observador. Portanto,
não há interrupção, mas apenas um ocultamento do campo de visão.
(5) O Carma opera em todas as coisas e seres, desde o
menor átomo concebível até Brahma. [1]
(6) O Carma não está sujeito ao tempo, e portanto aquele que conhece a
divisão última do tempo deste Universo conhece o Carma.
(7) Para todos os outros homens, o Carma, em sua natureza essencial, é
desconhecido e incognoscível.
(8) Mas a sua ação pode ser conhecida pelo cálculo da relação entre
causa e efeito. Este cálculo é possível porque o efeito está incluído na causa,
e não é posterior a ela.
(9) O Carma desta Terra é a combinação dos atos e pensamentos de
todos os seres de todos os graus que se envolveram no Manvântara [2] ou corrente evolucionária anterior, do
qual procede o nosso Manvântara.
(10) Devido ao fato de que tais seres incluem Senhores de Poder e Homens
Sagrados, assim como seres fracos e maldosos, o período da duração da Terra é
maior que a duração de qualquer entidade ou raça que viva sobre ela.
(11) O Carma desta Terra e das suas raças começou em um passado tão
longínquo que as mentes humanas não podem alcançá-lo. Por isso é inútil
investigar o seu início.
(12) Deve-se permitir que as causas cármicas já colocadas em movimento
prossigam até esgotar-se, mas isso não autoriza ninguém a recusar ajuda a seu
semelhante ou a qualquer ser sensível.
(13) Os efeitos podem ser compensados ou mitigados pelos pensamentos ou
ações da própria pessoa ou de outrem. Os efeitos resultantes representam a
combinação e interação de todo o conjunto de causas envolvidas na sua produção.
(14) Na vida dos mundos, das raças, das nações e dos indivíduos, o Carma
não pode agir a menos que haja um instrumento adequado para a sua ação.
(15) E enquanto o instrumento apropriado não for encontrado, o Carma que
depende dele permanecerá não-manifestado.
(16) Enquanto um homem está vivendo o Carma no instrumento que lhe
foi dado, o seu outro Carma, ainda não manifestado, não é esgotado por outros
seres, nem por outros meios, mas permanece reservado para operar no futuro.
Durante este lapso de tempo, não há deterioração na sua força nem mudança na
sua natureza.
(17) A adequação de um instrumento para a operação do Carma consiste na
conexão e na relação exatas do Carma com o corpo, com a mente, com a natureza
intelectual e psíquica adquirida pelo Eu Superior em qualquer encarnação.
(18) Todo instrumento usado por qualquer Eu Superior em qualquer vida é
adequado para o Carma que opera através dele.
(19) É possível acontecer mudanças no instrumento ao longo de uma vida,
de modo a torná-lo adequado para um novo tipo de Carma, e isso pode ocorrer de
duas maneiras: (a) através da intensidade do pensamento e do poder de um voto,
ou (b) através de alterações naturais devido à completa exaustão de causas
velhas.
(20) O corpo, a mente e a alma têm cada um a sua capacidade de ação
independente. Qualquer um deles pode esgotar, independentemente dos outros,
algumas causas cármicas mais remotas ou mais próximas do momento da sua
produção do que as causas que operam através de outros canais.
(21) O Carma é ao mesmo tempo piedoso e justo. A piedade e a
justiça são apenas pólos opostos de um todo único; e a Piedade sem Justiça não
é possível nas operações do Carma. Com freqüência aquilo que o homem chama de
Piedade e Justiça é defeituoso, errôneo e impuro.
(22) Há três tipos de Carma: (a) O que opera nesta vida atual
através dos instrumentos adequados; (b) Aquele que está sendo produzido ou
acumulado, para ser esgotado no futuro; (c) O Carma guardado desde vidas
anteriores e que ainda não está operando, porque permanece inibido pela
inadequação do instrumento atualmente usado pelo Eu Superior, ou porque
permanece inibido pela força do Carma atualmente em operação.
(23) Três campos de operação são usados em cada ser pelo Carma: (a) o
corpo e as suas circunstâncias; (b) a mente e o intelecto; (c) os planos
psíquico e astral.
(24) O Carma acumulado e o Carma presente podem, cada um deles ou os
dois ao mesmo tempo, operar em todos os três campos de operação cármica ao
mesmo tempo; ou pode ser que um tipo diferente de Carma opere ao mesmo tempo em
cada um dos três campos.
(25) O nascimento em qualquer tipo de corpo, e a obtenção dos frutos de
qualquer tipo de Carma, se devem à linha da tendência preponderante do Carma.
(26) A força da tendência cármica influencia a encarnação de um Eu
Superior, e qualquer família de Eus Superiores, durante três vidas, pelo menos,
quando não são adotadas medidas de repressão, eliminação ou compensação.
(27) As medidas tomadas por um Eu Superior no sentido de reprimir
tendências, de eliminar defeitos e de compensá-los - colocando em ação causas
diferentes - irão alterar o poder da tendência cármica e encurtar a sua
influência segundo a força ou fraqueza dos esforços feitos na concretização das
medidas adotadas.
(28) Ninguém, exceto um sábio ou verdadeiro vidente, pode avaliar o
Carma de outro ser humano. Portanto, ao mesmo tempo que cada um recebe o que
merece, as aparências podem enganar. Nascer pobre ou enfrentar profundos
sofrimentos pode não ser punição por mau Carma, porque há continuamente Eus
Superiores encarnando em condições desfavoráveis, nas quais eles experimentam
dificuldades e provações para fortalecer a disciplina do Eu Superior, e disso
resultam força, resistência e simpatia.
(29) As influências do carma de uma raça influenciam cada unidade da
raça através da Lei da Distribuição. O Carma nacional opera nos membros da
nação através da mesma lei, mais concentradamente. O Carma da família governa
apenas em uma nação em que as famílias foram mantidas puras e nítidas; porque
em uma nação em que há mistura das famílias - como ocorre nos períodos de Kali
Yuga - o Carma da família é geralmente distribuído no âmbito nacional. Mas
mesmo em tais períodos algumas famílias permanecem coerentes por longos
períodos, e neste caso os membros sentem a força do Carma familiar. O
termo “família” pode incluir várias famílias menores.
(30) O Carma opera para produzir cataclismos na natureza por
concatenação através dos planos mental e astral do ser. Um cataclismo pode ter
uma causa física imediata tal como um fogo interno ou uma perturbação
atmosférica, mas estes talvez tenham sido produzidos por uma perturbação criada
pelo poder dinâmico do pensamento humano.
(31) Os Eus Superiores que não têm qualquer ligação cármica com uma
porção do globo onde um cataclismo irá ocorrer são mantidos à parte da operação
do cataclismo de duas maneiras: (a) pela repulsão que age em sua própria
natureza; (b) através de chamados e advertências que lhes são feitos por
aqueles que vigiam o progresso do mundo.
NOTAS:
[1] Brahma - O
princípio supremo, neutro, impessoal e incognoscível do universo, de cuja
essência tudo emana. No seu aspecto inferior, existe Brahmâ, o “criador” do
universo. (“Theosophical Glossary”, H. P. Blavatsky,
Theosophy Co., Los Angeles). (N. do T.)
[2] Manvântara - Período
de manifestação de um Universo. (N. do T.)
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O texto acima foi traduzido de
“Theosophical Articles”, William Q. Judge, Theosophy
Company, 1980, Los Angeles, edição em dois volumes, ver volume I, pp. 120-124. Título original: “Aphorisms on
Karma”.
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